sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

17 DE DEZEMBRO: UM DIA INESQUECÍVEL


Dezessete de Dezembro de Dois Mil e Seis. Pense no dia que você aguardou por toda uma vida. O 17 de Dezembro de 2006, para todos os colorados simboliza isso. Talvez muito mais do que isso. O dia mais aguardado de toda uma vida e que se transformou no dia mais importante da quase centenária história do Inter.
Para mim, esse dia é muito mais do que especial. É o dia em que numa dessas artimanhas do destino, eis que Adriano Gabirú marca o gol consagrador, o gol que tornou o nosso querido e amado Sport Club Internacional Campeão Mundial de Clubes em cima da toda poderosa constelação de craques do Fútbol Club Barcelona. Quem imaginaria? Todos imaginavam Fernandão, imaginavam Alex, Iarley (dono de 90% do gol, diga-se de passagem), Pato...mas o destino, traiçoeiro, sorrateiro, nos deu um gol de Gabirú.
Não tem muito mais o que dizer. Simplesmente digo que esse é um dia eternamente marcado em nossas memórias. O dia em que sempre iremos nos lembrar da façanha homérica do Clube do Povo sobre o poderio econômico europeu. A prova, defintiva, de que a escolha do nome INTERNACIONAL em 1909 pelos irmãos Poppe não foi em vão. E que valeu esperar por uma vida toda por esse dia. E como valeu.

Posto a crônica simplesmente incrível de Veríssimo escrita na época para ilustrar um pouco desse sentimento.

Não me Acordem
por Luis Fernando Veríssimo

O passado é prólogo. Certos acontecimentos dão força a esta frase, transformam tudo que veio antes em preliminar, em mero antecedente.
Ou, para usar outro termo literário, em prefácio. Você se dá conta de que tudo que houve até ali – toda uma vida, toda uma história – foi simplesmente preparação para aquele certo momento, depois do qual nada será como era. E o passado ganha uma lógica que não tinha. Você passa a entender tudo em retrospecto. Tudo tinha um sentido que você apenas não percebera, na falta do momento máximo. A vitória do Grêmio em Tóquio em 83, os anos medíocres, o quase rebaixamento, as finais desperdiçadas, os vexames, as desilusões – tudo era prólogo para ontem.
Agora ficou claro, agora ficou lógico. O próprio destaque como melhores do mundo conquistado pelo Barcelona e pelo Ronaldinho fazia parte da preparação para o nosso 17 de dezembro, que não teria o mesmo gosto épico se o adversário fosse outro. Tudo era armação pra aumentar o brilho e co drama do nosso momento máximo. Tudo se encaixava. Ou você pensa que a saída do Pato e do Fernandão, ontem, foi obra do acaso, esse autor sem imaginação? O resultado de ontem veio sendo construído aos poucos, desde antes da fundação do Internacional, antes de Pedro Álvares Cabral, antes de Homero e das pirâmides;
E eu sabia que havia uma justificativa histórica para o topete do Gabiru.
Há dias a leitora Poliana Lopes me lembrou de um texto que eu tinha escrito, e esquecido. Ela teve a gentileza de me mandar o texto, e eu peço licença para repeti-lo agora. Era assim:
“Meu caro colorado. Desculpe esta carta a céu aberto, é que não sei seu nome nem seu endereço. Na verdade. Só vi você na rua, de mãos dadas com seu pai e cercado pelos seus irmãos, que vestiam a camiseta do Grêmio (suponho que fossem seu pai e seus irmãos). Você estava com a camiseta do Internacional. Quase parei o carro para olhar melhor, as não era miragem. Você tinha uns quatro ou cinco anos e estava de camiseta vermelha! Seu pai vestia uma camisa branca exemplarmente neutra, mas posso imaginar como tem sido a sua vida em casa. As provocações, os petelecos, a flauta, o martírio. E lá estava você de camiseta vermelha, o antigo escudo orgulhosamente no peito, desafiando todas as provações. Não sei se você sabe que vários colorados de sua geração não agüentaram e trocaram de time. Levaram pais e avós ao desespero, mas não suportaram a pressão do sucesso gremista; Você agüentou. Você não sabe, mas é um herói. E fiquei pensando que, quando for a nossa vez de novo, teremos certamente a torcida mais dedicada, fiel, convicta e feliz do Brasil. Porque será a torcida dos que resistiram. Agüente só mais um pouco. Meus respeitos.”
Mas isto também pode ser só um sonho.
Se for, por favor: não me acordem.


Dezessete de Dezembro de Dois Mil e Seis. O dia que nos corações, mentes, memórias, emoções, ainda não terminou para nenhum colorado. O dia que somente terminará quando a bandeira colorada estiver sobre nosso caixão. Um dia ETERNO.